sábado, 30 de março de 2013

Vestes



O aceito como minhas vestes -
Cobrindo ou despindo minhas vergonhas.
                                               
O aceito como se fosse minha própria carne;
                                   Meu sangue;
                                   Meu ego em demasia.

Aceito tão somente porque és meu ser habitando outra pele,
E me completas quando em suma,
Penetra minhas lacunas.

Deflagrando-me


Nada lhe suplico, além das noites cretinas
Quando comigo cumplicia dos
Teus impulsos felinos,
O hálito com que suga minha saliva,
Teus afagos de cão abandonado
Ansiando meus poros
                       Dilatados,
                       Inflamados,
                       Úmidos,
Ao senti-lo vivo,
Deflagrando-me.

Maria, Maria


Maria que nunca ria,
           Que nunca saía,
           Que nunca se atrevia.

Maria que não tinha tempo,
           Que não tinha sonhos,
           Que não tinha vida.

Maria às vezes lia,
           Às vezes chorava,
           Às vezes se escondia.

Maria queria um amor,
           Queria pôr o melhor vestido,
           Queria dias festivos.

Maria que nunca ria,
           Que nunca saía -
           Deixou os pratos na pia,
          As frustrações debaixo do tapete,
          As flores que já não mais se abriam.
Um dia se atreveu:
Fez as malas,
Encheu-se de coragem,
Partiu.

Maria que nunca saía,
Embevecida com a vida que nunca via,
Foi atropelada logo na primeira esquina,
Pela rua que nunca parava,
Que mais ninguém se aturdia.
No enterro,
Só seu companheiro inseparável:
O Vazio.
 

Nódoa






Da última vez em que jurei-te amor,

Lá se vão dois anos,
Algumas doses de egoísmo,
Goles de solidão
E um desejo que nunca ninguém soube serenar.

Da última vez em que sepultamos nosso conto,
A distância deu-lhe um novo amor;
A sorte que eu desconheço
E uma vida que você alimenta e
vê crescer com afeto incondicional.

Da vez em que partimos
                    – partimo-nos,
Ficaram as recordações como nódoa
Que tempo nenhum apaga;
Vício que envenene,
                 Sufoque;
Que o tire de mim.

Mendigando



Pois, creia!
Há neste corpo, além da carne e das vísceras,
um peito que pulsa e corteja o amor,
qual mendigo humilhado implorando comida.

terça-feira, 12 de março de 2013

Desgosto



Nestes dias infernais em que a vida me escarra na cara,
Torço para que a solidão me engula
Ou o desgosto me atire nos braços da morte.