terça-feira, 26 de abril de 2011

Cúmplices


As mãos que hoje me tocam
Não são aquelas de outrora.
Não são feitas de amor,
Ardem como fogo alto
E deslizam macias sobre a pele eriçada.
As mãos de hoje não têm a inocência daquelas
Mas são sinceras, faceiras, e um tanto sutis.
Digo que são sinceras,
Pois não negam o desejo que trazem.
As mãos que hoje me tocam
Têm a experiência de quem muito já sofreu
E a nada se comparam com a ingenuidade daquelas
Que pouco conhecem do amor.
As mãos de hoje são firmes, seguras,
E sabem exatamente o que querem.
Elas são independentes, não pedem, fazem.
Mas há mistério e sedução, algo de proibido,
Não permitido aos demais.
Carregam consigo a cumplicidade não revelada,
O pecado e o desejo que em segredo são ferozmente saciados. 


Rayane Medeiros

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Contradições


Cena do Filme "P.S. I Love You" (P.S. Eu Te Amo).


E não há amores eternos, sempre sinceros e com total fidelidade. Mas há a sensação única do primeiro encontro, o toque molhado dos lábios, a promessa de um romance infindável.
E não há amores sem mentiras, a dissimulação aguçada nos olhos, e a visita constante da desilusão.
Mas há o palpitar acelerado do peito após um abraço apertado, o arrepio da pele após uma leve mordida no pescoço, o calor do corpo entre lençóis, que de desejo chega a transpirar.
E não há amores sem intrigas, o ciúme exagerado, e o egoísmo natural do homem.
Mas há o sussurrar ao pé do ouvido, o roçar entre - pernas, as mãos que deslizam corpo abaixo, eufóricas, sem destino.
E não há amores que não nos roube a liberdade, que não limite nossas aventuras pessoais, e que dos amigos não nos distancie.
Mas há o olho no olho, o entrelaçar das mãos macias, o silêncio que tanto nos quer dizer.
Não há amor sem desejo mútuo, recíproco, e incondicional.
Mas o há enquanto nele se acreditar, enquanto houver cumplicidade, e o amor próprio reine antes de tudo.




Rayane Medeiros

sábado, 23 de abril de 2011

Dias Primeiros


Sabe, já não tenho a mesma cara de outrora
O riso fácil da infância
A ousadia inocente dos apaixonados.
Já não tenho a ingenuidade comum das moças
O brilho radiante em meus olhos
A alegria inabalável dos que sabem amar.
Não creio mais nesses dias primaveris
No calor humano que contagia
No amor que vez ou outra me convida.
Não mais me arrepia o sussurrar do vento
Os dias primeiros de inverno
A onda ofegante que nas pedras se desfaz.
Sabe, agora já não amo
Não sonho, não desejo, não penso
Logo agora já não vivo.


Rayane Medeiros

Apreço

Cena do filme "Gone With The Wind" (E o Vento Levou).




















Há uns olhos que me atraem,
Me atiçam,
Me pedem que eu naveguem em sua direção.
Uns olhos inquietos;
Que riem,
Me pedem um momento e logo me renegam.
Há uns olhos sinceros,
Proibidos,
Que requer de mim um certo afastamento.
Uns olhos firmes, seguros,
E que transbordam proteção.
Há uns olhos amigos,
De carinho intenso
E apreço duvidoso.
Uns olhos interrogativos, salientes,
Com sabor de mel regado a fel.
Uns olhos discretos, atenciosos, e cúmplices do que há de mais proibido.
Uns olhos que me perseguem quando fujo,
E se retrai quando um outro par de olhos nos vêm a flagrar.
Há uns olhos irresistíveis,
Que a mim não pertencem,
Mas me atentam, me enfeitiçam, e logo então eu me entrego.
Ah, aqueles olhos...
Apenas olhos,
Que roubam de mim toda e
Qualquer atenção que inutilmente tento manter.




Rayane Medeiros



Eternizar

Cena do filme "Into The Wild" ("Na Natureza Selvagem").
















Não há amor para mim
Só o desejo sufocante de liberdade
Uma liberdade gritante
Que me corrompe da moral predominante
E me atira para o que há de mais banal.
Não há amor que numa rotina me prenda
E no hábito eu me acomode.
Mas há a vida lá fora
Me chamando 'pro pecado
para 'num corpo entrelaçado
Me perder sem arrependimento.
Não há amor que me faça jurar eternidade
E sonhar com uma vida tranquila.
Mas há uma estrada para seguir sem destino
Pessoas que me acrescentem
E toda uma vida para usufruir sem pudor.
E não há amor que me faça perder o sono
E o egoísmo natural do ser humano.
Mas sempre haverá o riso estampado no rosto
Momentos intensos que jamais há de se repetir
Mas que num simples e leve sussurrar
Tudo há de se eternizar.





Rayane Medeiros

A Partida




















              
Saiu sem nada dizer.                                                                  
Não olhou para trás.
Não se despediu.
Acho quem nem sequer chorou, ou lamentou,
Quando sozinho se encontrou.
Nem um sorriso amarelo esboçou.
Simplesmente, partiu.
Sumiu da minha vida.
Como chuva de verão, 
Veio de repente e tão logo foi-se embora.
Não sinto dor.
Nem saudade talvez eu sinta.
Mas creio que sempre haverá um espaço,
Um grande vazio,
E este silêncio lastimável.    




Rayane Medeiros