terça-feira, 29 de outubro de 2013

Eu, Você e o Universo.


Do nosso amor, já nem entendo,
Nem descrevo,
Nem me submeto a buscar explicação.
Do nosso amor o universo é que conspira -
                                      Contra ou a favor,
Deixo ele nos guiar
De mãos atadas,
Pregueadas no cós do destino;
Do instinto,
Do vento alheio a regras.
Do nosso amor,
As estrelas é que orientam,
Desorientam,
E nos faz elo errante.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Eu moro com a minha mãe mas meu pai não vem me visitar


Dos heróis que tive na vida,
Você foi o primeiro e derradeiro.
Hoje lhe guardo rancor e
A decepção que me pesa mais que o amor que sempre dediquei.
Sinto saudade das visitas que precisei e nunca foram feitas;
Os conselhos que deveria ter ouvido;
O teu ombro nas tantas vezes em que chorei e ele esteve ausente.
A verdade é que você nunca fez parte da minha vida.
E nada mais me dói do que ter que admitir isso.
Hoje foi a última vez em que mendiguei sua atenção;
O seu papel que desdenha tão facilmente.
Só por hoje,
Eu choro a não presença tua.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Nua


Aqueles que me querem tato,
            Que me querem alma,
            Que me querem verso!
Esses, já não os quero.
E me despeço deles
Como quem se despe das roupas
Que não lhe cabem no corpo. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013


O cheiro do látex em suas mãos denunciava
o crime do qual eu não fui cúmplice.

Engoli a contragosto
O beijo furto,
O tato promíscuo,
A dor no peito que latejava insistente.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Melhora da Morte



"Ontem à noite, eu conheci uma guria, que eu já conhecia
De outros carnavais, com outras fantasias
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão" 
(Piano Bar, Engenheiros do Hawaii) 



Acordou adoentado,
Com sintomas que já lhe eram familiar.
Para ser bem franca,
Vivia mais na moléstia do que são.
Da última vez em que o viram,
Carregava um sorriso animador.
“É a melhora da morte”
Alertava os amigos à família.
De súbito,
Já se viu sem chão, sem dor, sem alma.
Os curiosos em seu enterro indagavam a causa.
Os que lhe tinham apreço,
De imediato respondiam:
- Morreu como morrem os poetas: de solidão. 

sábado, 11 de maio de 2013

Breu



Quando deveras se fez breu na noite,
Sob a luz fraca da vela que alumiava minha pele despida,
Desenhei teu corpo no meu e percorri
Teus pêlos que me espinhavam.
À galopes, me contorci. 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Trago

O beijo, Gustav Klimt



Teu trago
Travou em minha boca
E não há saliva,
Vinho em demasia,
Amargor de outro corpo
Que me alveje de ti.

domingo, 7 de abril de 2013

Tato


Que não seja...
Pois te digo agora:
Que não seja amor,
                    Afeição
Ou obsessão de uma noite qualquer.
Que não seja ato o que me dizes tão profundamente
Em teus versos improvisados.
Que não seja tato,
Que não seja coito,
Que não seja nada.

sábado, 30 de março de 2013

Vestes



O aceito como minhas vestes -
Cobrindo ou despindo minhas vergonhas.
                                               
O aceito como se fosse minha própria carne;
                                   Meu sangue;
                                   Meu ego em demasia.

Aceito tão somente porque és meu ser habitando outra pele,
E me completas quando em suma,
Penetra minhas lacunas.

Deflagrando-me


Nada lhe suplico, além das noites cretinas
Quando comigo cumplicia dos
Teus impulsos felinos,
O hálito com que suga minha saliva,
Teus afagos de cão abandonado
Ansiando meus poros
                       Dilatados,
                       Inflamados,
                       Úmidos,
Ao senti-lo vivo,
Deflagrando-me.

Maria, Maria


Maria que nunca ria,
           Que nunca saía,
           Que nunca se atrevia.

Maria que não tinha tempo,
           Que não tinha sonhos,
           Que não tinha vida.

Maria às vezes lia,
           Às vezes chorava,
           Às vezes se escondia.

Maria queria um amor,
           Queria pôr o melhor vestido,
           Queria dias festivos.

Maria que nunca ria,
           Que nunca saía -
           Deixou os pratos na pia,
          As frustrações debaixo do tapete,
          As flores que já não mais se abriam.
Um dia se atreveu:
Fez as malas,
Encheu-se de coragem,
Partiu.

Maria que nunca saía,
Embevecida com a vida que nunca via,
Foi atropelada logo na primeira esquina,
Pela rua que nunca parava,
Que mais ninguém se aturdia.
No enterro,
Só seu companheiro inseparável:
O Vazio.
 

Nódoa






Da última vez em que jurei-te amor,

Lá se vão dois anos,
Algumas doses de egoísmo,
Goles de solidão
E um desejo que nunca ninguém soube serenar.

Da última vez em que sepultamos nosso conto,
A distância deu-lhe um novo amor;
A sorte que eu desconheço
E uma vida que você alimenta e
vê crescer com afeto incondicional.

Da vez em que partimos
                    – partimo-nos,
Ficaram as recordações como nódoa
Que tempo nenhum apaga;
Vício que envenene,
                 Sufoque;
Que o tire de mim.

Mendigando



Pois, creia!
Há neste corpo, além da carne e das vísceras,
um peito que pulsa e corteja o amor,
qual mendigo humilhado implorando comida.

terça-feira, 12 de março de 2013

Desgosto



Nestes dias infernais em que a vida me escarra na cara,
Torço para que a solidão me engula
Ou o desgosto me atire nos braços da morte.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Metáforas


Ao poeta Manoel Cavalcante


Ora, poeta!
Não se engane com meus versos sujos!
São descargas dos amores vadios
que me despiram do romantismo.
Esquarteje as metáforas imundas e encontrarás senão,
o sentimentalismo enfronhado nos braços de Morfeu. 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Permissível


Acossado (À bout de souffle), de Jean-Luc Godard - 1959

Traçava o dia
em que naqueles pêlos estrangeiros
Pudesse subverter-se em desaforos,
                                     Euforia,
                                     Profanação.
Sussurraria-lhe verbos inconfessáveis;
Beijaria-lhe desde o permissível
à imensidão de tuas prisões.
Ela lhe submeteria à maior de todas as perversões
E improvisaria as juras mais sinceras.