sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Estações

  A  Adson Bruno, Adriana Costa, Angélica Grécia, Cleiton Braga, Daliane Melo, 
Felipe Raoni, Joseni Nogueira, Geciana Nogueira, Millena Stefhany e Nuthynni Sales, com todo meu amor, todo meu carinho, e meu eterno sentimento de amizade.

"Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem..."

(Por Enquanto, Renato Russo)
     
     Saudade é quando a gente deseja voltar no tempo, e saborear em demasia, cada pedacinho de vida que deixamos pra trás;  a felicidade alardeada, o riso estridente, o abraço em acalanto, em cumplicidade. É desejar voltar e dizer o inaudito; é sufocar a mágoa, a raiva desvairada.
     Saudade é um amor reprimido; é fogo em brasa, é cinza... É o vento que desfaz, em outra esquina; É a lembrança do cheiro, impregnado no retrato; o vício e manias que persistem, como um tormento. É o rumor dos novos hábitos que nos remete aos velhos, tristemente sepultados.
     Saudade é sentir em outro ventre, a despedida dos grandes sonhos; O reencontro com o passado, já tão somente novo. É o lamento do que já fomos, e nunca mais seremos. É a vida que se finda em outra vida; A realidade que nunca esteve em nossos planos.
         Saudade é pedir aos céus que o tempo retrocesse, e os erros se desfaçam; que os laços se fortaleçam e o afeto prevaleça indestrutível.
   Saudade é o instante de agora; o arrependimento indissolúvel; o choro contido; o riso amarelo sem harmonia. É o desdém do que virá, e nunca nos será pleno. É o ruído dos segredos, muitos não ditos; a palavra em reconforto; o sibilar do amor inconfesso.
      Saudade é o nó na garganta, nunca desfeito; é um encontro com o inesperado; uma visita em casa estranha; É esperança de um tesouro perdido; um rio que nos leva à sua nascente. É o infinito que nos engole em teu mistério; é o estar-se alheio, mas com o anseio acorrentado no previsível...
Saudade é o tempo de agora; que nos dispersa, nos fere, e tão logo nos devora.  



Rayane Medeiros

sábado, 22 de outubro de 2011

Minha Novela



É um sonho, Moço,
Ver-te em minha novela
Tão somente meu –
Senhor de meus suspiros,
Sorrisos repentinos que me flagram,
Do palpitar desconexo que me trai...

És um sonho, Moço,
Um lindo sonho que
Acalante-me,
Afaga-me,
E me beija o coração apaixonado.

És meu sonho, Moço,
E orbito oscilante em ti,
Radiante,
Indisciplinada,
Como o primeiro e
Derradeiro amor...

És meu sonho, Moço,
Meu mais lindo sonho,
E não me permito despertar!


Rayane Medeiros

sábado, 15 de outubro de 2011

Camomila

Acordei disposto a descartar velhos hábitos; Mudar por dentro e por fora, sobretudo aquilo que não me convém. Comecei pelo café. Não o tomei. Mas confesso, fiquei tentado ao sentir o cheiro forte, e a boca salivou ao lembrar-se do gosto amargo e familiar que me aquecia o ânimo.  Fiz um chá. Gosto do Preto, mas este me lembraria do café, então não o cogitei. Preparei de Camomila, dizem que é calmante, não sei, veremos. Não gostei. É amarelado e tem sabor de flores. Nunca comi flores, mas elas devem ter esse gosto. Devo ter ficado com a imagem da embalagem do chá na cabeça... Que seja, não é bom, mas ainda sim, será mantido entre os novos hábitos.
O segundo passo é ler. Não falo de textos acadêmicos ou leituras superficiais de livros que nada nos dizem. Falo de viver uma história, de rir e chorar como se fosse o próprio personagem. Há muito tempo não faço isso, estou sempre muito ocupado com minhas redes sociais, elas me roubam todo o tempo, só agora me dou conta disso.
De hoje em diante, declarei silêncio. Não falo no sentido literal. Mas no de saber ouvir, de calar quando necessário. As pessoas estão sempre dispostas a dizer algo, como isso fosse de uma importância incontestável, e falam compulsivamente por não ter nada a dizer. Poderiam estar aprendendo verdadeiras lições de vida, se não cressem que já sabem o suficiente.
Também andei pensando em descartar certos vícios, eles não me fazem felizes, me trazem ilusões, falsas sensações de auto-confiança... Penso que preciso de paz de espírito, tranquilidade, talvez freqüente uma igreja, um templo, e me torne melhor quanto ser humano...
Por último, e nunca menos importante, eu resolva dar espaço ao amor. É claro que o amor acontece mesmo sem nosso consentimento. Mas ele nunca será pleno e verdadeiro se não estivermos dispostos a vivê-lo, nos entregarmos, nunca! Quem sabe a vida não me surpreenda, e não me confesse a receita da felicidade?! Não se trata de um teste, um jogo, um fetiche. É apenas mais uma maneira, entre tantas,  de se viver, nada mais.


Rayane Medeiros

sábado, 8 de outubro de 2011

Fendas

"Não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
Velejando, viajando, sol quarando
Meu querer, meu dever, meu devir
E eu aqui a comer poeira

Que o sol deixará"

(Skank, Canção Noturna)  

Me flagrei a vagar por entre ruas,
Velhas conhecidas minhas...  
De outros tempos,
Das fendas tuas.

Fui ao teu encontro –
             Inconsciente
E na tua varanda,
Saboreei ainda ébrio,
Lembranças tímidas
Que de ti persistem,
Traidoras do meu ego.

Não sei se me viste,
E despiu-se da amargura
Ou me desprezaste,
Ignorastes-me...
Entretanto a vi,
E a imaginei a meu modo –
 Torto
  Indisciplinado,
E sucumbi às paixões que tu exala.

Embrenho-me em tuas lacunas
E a faço real em meras fantasias ...
És meu capricho,
Meu inverso,
Meu tormento...
Castelo de areia que se arruinou
Em meu frenesi.


Rayane Medeiros