terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Infame


Eu sou o vento frio das tardes em despedida,
A vontade infame de corromper entranhas;
De rasgar vestes que encobrem pudor;
A hipocrisia dos que se perdem na surdina.

Sou o perfume amargo que não larga o tecido,
O suor que umedece a carne em frenesi,
O ruído da noite em nostalgia...

Eu sou tua mão em meu cabelo,
Em minha pele,
Em meu segredo.

Sou o apelo em ver-te deus,
Em ver-te livre,
Em ver-te meu.


Rayane Medeiros

sábado, 17 de dezembro de 2011

Desassossego


Suas visitas andam frequentes em meu altar,
Batendo à porta como lembrança que não nos deixa partir;
Sal do mar embrenhado no pêlo...

Vêm quando teu cheiro já não se faz presente no algodão dormido;
Quando o banho esfriou a pele,
E a promessa precisa assinar contrato.

Suas visitas andam preenchendo noites vazias,
Carências famintas que não sossegam,
Que não bastam...

Vêm embalando o ruído das paixões antigas,
E sai revirando o sossego dos dias iguais. 


Rayane Medeiros

sábado, 10 de dezembro de 2011

Fuga




"Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços dvidro..."(Andrea Doria, Legião Urbana)
Fugiu com a ausência,
Abrigou-se nas lembranças,
Onde somente lá,
podemos ir além.
Talvez o acaso nos encontre e
o abraço seja longo,
Como a reprimir,
Sufocar desejos indevidos.
Ou talvez o receio mantenha-o em outro pólo,
A revirar o riso ecoado;
As mãos afoitas que se despiram da lucidez;
A ideologia errante dos que se entorpecem de vida.

Fugiu com o conto,
Com meu sentimento mais sincero,
Meu anseio em ver-te sempre abrigo.

Fugiu-me como fogem os loucos,
Os presidiários,
Os que nunca sentiram amores maiores.
Fugiu-me. E é certo que nunca volte.


Rayane Medeiros 











domingo, 4 de dezembro de 2011

Auto-Retrato


Pitty em seu videoclipe "Fracasso".






Rir-se,
Para encobrir soluços,
Esquecer frustrações,
Desiludir-se.

Rir-se,
Do cabelo desgrenhado
às pernas inquietas.

Ri afoita,
Como criança em tempo de festa;
Como velho que não tem mais pressa...

Rir-se,
Porque a vida é bela,
O sol sempre lhe espera,
E o riso foi feito pra ser gasto.

Ri pra exibir seus dentes –
Amarelos,
  Irregulares,
Seu melhor postal de natal.

Rir-se –
Histérica,
Estridente;
Pois é do riso que ela é feita.


Rayane Medeiros

sábado, 26 de novembro de 2011

Testemunha oculta

A noite foi testemunha do inevitável –
Do riso,
Do laço,
Da nostalgia.

Testemunha da embriaguez que envolvia-nos;
Do sussurro intercalado,
Dos olhares em demasia.

A noite foi testemunha das mãos que nos prendiam;
Da palavra que nos vicia,
Do pudor
Que nos oprimia.

Testemunha do receio;
Do medo,
Do tato –
      Em desespero.

A noite foi testemunha do sacrifício em conter-me,
Sufocar-me,
Reprimir desejos.


Rayane Medeiros

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Firmamento

Ao poeta Mário Gerson, que o tornou mais belo.



Por hoje obriguei-me a dizer-te não;
Abrir-me para o acaso,
Para os laços que me libertam –
                                       Libertinam-me!

Obriguei-me a não pensar em ti,
Não desejar-te
Ou sentir teu metal pressionar meus lábios –
                                                        Deliciosamente.

Obriguei-me a sair ao sol,
Sentir o vento resfriar a pele aquecida,
Desviar olhares indiscretos,
Sentir-me outra, que não sua.

Obriguei-me acalantar alvoroços,
Destruir firmamentos,
Adormecer os olhos fantasiosos,
Esquecer-te plenamente.

E deliciosamente aqui
Estar assim, solitária de mim.



Rayane Medeiros

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Do Encontro


E nada mais anseio,
Senão o dia em que
Meus olhos inquietos,
Cruzarão com os teus;
Meus braços insistentes,
Encontrarão seus pares e
Meus lábios eufóricos,
Contentar-se-hão,
Morrer em tua face.


Rayane Medeiros

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pelo Avesso

"Você me deixa tonto, minha cabeça roda
Um dia desses eu vou caçar você (...)
Você sabe que me faz pirar,
Me faz pirar
Eu não quero ficar assim"
 (Breakout, Foo Fighters)


                                                          
Embrenha-se,
Vasculha-me arestas,
Fendas lúgubres em anseio.

És truque dissonante,
Abstinência dissolúvel
                      Em utopia.

Embrenha-se,
E fere sem tato,
Ardor,
Amargor impregnado...

És ilusão efêmera,
Miragem,
Fantasia em ebulição...

Embrenha-se
E, pontual,
Volta sempre a revirar-me.


Rayane Medeiros

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Estações

  A  Adson Bruno, Adriana Costa, Angélica Grécia, Cleiton Braga, Daliane Melo, 
Felipe Raoni, Joseni Nogueira, Geciana Nogueira, Millena Stefhany e Nuthynni Sales, com todo meu amor, todo meu carinho, e meu eterno sentimento de amizade.

"Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem..."

(Por Enquanto, Renato Russo)
     
     Saudade é quando a gente deseja voltar no tempo, e saborear em demasia, cada pedacinho de vida que deixamos pra trás;  a felicidade alardeada, o riso estridente, o abraço em acalanto, em cumplicidade. É desejar voltar e dizer o inaudito; é sufocar a mágoa, a raiva desvairada.
     Saudade é um amor reprimido; é fogo em brasa, é cinza... É o vento que desfaz, em outra esquina; É a lembrança do cheiro, impregnado no retrato; o vício e manias que persistem, como um tormento. É o rumor dos novos hábitos que nos remete aos velhos, tristemente sepultados.
     Saudade é sentir em outro ventre, a despedida dos grandes sonhos; O reencontro com o passado, já tão somente novo. É o lamento do que já fomos, e nunca mais seremos. É a vida que se finda em outra vida; A realidade que nunca esteve em nossos planos.
         Saudade é pedir aos céus que o tempo retrocesse, e os erros se desfaçam; que os laços se fortaleçam e o afeto prevaleça indestrutível.
   Saudade é o instante de agora; o arrependimento indissolúvel; o choro contido; o riso amarelo sem harmonia. É o desdém do que virá, e nunca nos será pleno. É o ruído dos segredos, muitos não ditos; a palavra em reconforto; o sibilar do amor inconfesso.
      Saudade é o nó na garganta, nunca desfeito; é um encontro com o inesperado; uma visita em casa estranha; É esperança de um tesouro perdido; um rio que nos leva à sua nascente. É o infinito que nos engole em teu mistério; é o estar-se alheio, mas com o anseio acorrentado no previsível...
Saudade é o tempo de agora; que nos dispersa, nos fere, e tão logo nos devora.  



Rayane Medeiros

sábado, 22 de outubro de 2011

Minha Novela



É um sonho, Moço,
Ver-te em minha novela
Tão somente meu –
Senhor de meus suspiros,
Sorrisos repentinos que me flagram,
Do palpitar desconexo que me trai...

És um sonho, Moço,
Um lindo sonho que
Acalante-me,
Afaga-me,
E me beija o coração apaixonado.

És meu sonho, Moço,
E orbito oscilante em ti,
Radiante,
Indisciplinada,
Como o primeiro e
Derradeiro amor...

És meu sonho, Moço,
Meu mais lindo sonho,
E não me permito despertar!


Rayane Medeiros

sábado, 15 de outubro de 2011

Camomila

Acordei disposto a descartar velhos hábitos; Mudar por dentro e por fora, sobretudo aquilo que não me convém. Comecei pelo café. Não o tomei. Mas confesso, fiquei tentado ao sentir o cheiro forte, e a boca salivou ao lembrar-se do gosto amargo e familiar que me aquecia o ânimo.  Fiz um chá. Gosto do Preto, mas este me lembraria do café, então não o cogitei. Preparei de Camomila, dizem que é calmante, não sei, veremos. Não gostei. É amarelado e tem sabor de flores. Nunca comi flores, mas elas devem ter esse gosto. Devo ter ficado com a imagem da embalagem do chá na cabeça... Que seja, não é bom, mas ainda sim, será mantido entre os novos hábitos.
O segundo passo é ler. Não falo de textos acadêmicos ou leituras superficiais de livros que nada nos dizem. Falo de viver uma história, de rir e chorar como se fosse o próprio personagem. Há muito tempo não faço isso, estou sempre muito ocupado com minhas redes sociais, elas me roubam todo o tempo, só agora me dou conta disso.
De hoje em diante, declarei silêncio. Não falo no sentido literal. Mas no de saber ouvir, de calar quando necessário. As pessoas estão sempre dispostas a dizer algo, como isso fosse de uma importância incontestável, e falam compulsivamente por não ter nada a dizer. Poderiam estar aprendendo verdadeiras lições de vida, se não cressem que já sabem o suficiente.
Também andei pensando em descartar certos vícios, eles não me fazem felizes, me trazem ilusões, falsas sensações de auto-confiança... Penso que preciso de paz de espírito, tranquilidade, talvez freqüente uma igreja, um templo, e me torne melhor quanto ser humano...
Por último, e nunca menos importante, eu resolva dar espaço ao amor. É claro que o amor acontece mesmo sem nosso consentimento. Mas ele nunca será pleno e verdadeiro se não estivermos dispostos a vivê-lo, nos entregarmos, nunca! Quem sabe a vida não me surpreenda, e não me confesse a receita da felicidade?! Não se trata de um teste, um jogo, um fetiche. É apenas mais uma maneira, entre tantas,  de se viver, nada mais.


Rayane Medeiros

sábado, 8 de outubro de 2011

Fendas

"Não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
Velejando, viajando, sol quarando
Meu querer, meu dever, meu devir
E eu aqui a comer poeira

Que o sol deixará"

(Skank, Canção Noturna)  

Me flagrei a vagar por entre ruas,
Velhas conhecidas minhas...  
De outros tempos,
Das fendas tuas.

Fui ao teu encontro –
             Inconsciente
E na tua varanda,
Saboreei ainda ébrio,
Lembranças tímidas
Que de ti persistem,
Traidoras do meu ego.

Não sei se me viste,
E despiu-se da amargura
Ou me desprezaste,
Ignorastes-me...
Entretanto a vi,
E a imaginei a meu modo –
 Torto
  Indisciplinado,
E sucumbi às paixões que tu exala.

Embrenho-me em tuas lacunas
E a faço real em meras fantasias ...
És meu capricho,
Meu inverso,
Meu tormento...
Castelo de areia que se arruinou
Em meu frenesi.


Rayane Medeiros

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Resquícios


Da noite primeira
(E senão a última)
Ficou-me teu cheiro,
O amadeirado suave
Entranhado em meu corpo...

Ficou teu trago em minha boca,
O doce amargo do teu negro.

Da noite primeira
(E senão a última)
Ficou-me o teu falar
ao pé do ouvido,
Teu grave que se desfaz
                         Em arrepio...

Ficou o abraço inquietante,
O beijo trocado em comum acordo.

Da noite primeira
(E senão a última)
Ficou-me teu vício impregnado,
Teu tato em minha pele,
Meu desejo...
                    Não saciado.


Rayane Medeiros