segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ato de Confissão

Desde muito cedo frequentei os bancos da igreja, agarrada às saias de minha vó paterna. Íamos às missas, novenas, procissões. E enquanto aquela gente fechava os olhos para rezar com tanta devoção, eu os observava sem entender coisa alguma. Por muitos anos acompanhei minha vó, às vezes meu primo nos acompanhava, outras vezes nós acompanhávamos outras velhas. Eu ia mais por passeio que por qualquer outra coisa. E perguntava a minha vó porque as pessoas pediam aos santos, se podiam pedir diretamente a Deus. Ela me respondia com aquela crença de velha ofendida "Deus já ouve pedidos de mais, os santos intercedem". E foi com esse hábito de criança curiosa que comecei nas aulas de catecismo para fazer a Primeira Eucaristia. Minto, fui também por passeio, junto a meu primo e amigos nossos. Era minha diversão, já que nada tinha para fazer aos domingos (talvez sábados, já nem lembro ao certo). Entretanto, antes da grande cerimônia, nos vimos obrigados a nos confessar ao padre, tudo parte ritual. Quando me vi frente à batina, nada tinha a dizer. O padre insistiu, queria saber de meus pecados. Que pessoa seria que não havia pecado algum? Eu tinha que confessá-los! Tanto insistiu que o confessei estar “brigada” com minha madrasta. Não via motivo algum, para falar com alguém que estava desviando o amor de meu pai a mim, para ela, ora, pois! O padre, no alto de sua sabedoria, me aconselhou que voltasse a falar com ela. Foi assim que cometi um dos tantos erros da minha vida juvenil: Voltei a falar com uma mulher pelo qual nutríamos dissabores recíprocos. Por fim, Até hoje não entendo porque chamam de Primeira Eucaristia, já que não há uma Segunda Eucaristia. Perdoem-me se falo bobagens, sobre essas coisas de igreja nada entendo.

Depois de crescida, ia para as missas com as amigas, motivo? Meninos! Pois sim, íamos paquerar na igreja! Passávamos um tempo ouvindo a palavra de Deus, e pouco tempo depois já estávamos no pátio da igreja fofocando, comendo pipoca, flertando. Bom, nessa parte falhei, minha timidez me impedia de manter até contato visual com alguém de outro sexo. Entretanto, acobertava os romances das amigas. Então, foi nesse período que minhas idas à igreja não tinham sentido algum. Mais eu frequentava as rezas, mais descrente eu ficava. E assim fui aos poucos deixando os passeios na igreja, e me autointitulei "católica não praticante", mas não por muito tempo. Um professor de História, por quem tinha eu verdadeiro apreço, certa vez em sua aula, disse que “católicos não praticantes” nada mais são que, pessoas sem religião que simplesmente não admitem que não a têm (quem sabe por medo?). A partir daí (mas não tão rápido) comecei a vestir a minha 'não religião'. Foi quando vieram as condenações por eu não crer em Deus. E lá ia eu explicar que não seguir uma religião não significava não ter Deus no coração...

Segui em minha defesa de que tinha Deus em meu comando até quando conheci o Agnosticismo. Muitos gostam de classificar como “Ateus em cima do muro”. Eu defendia que Deus é abstrato, que ele é manifestação do bem e o amor entre as pessoazZzZzZ. Até que cheguei a um ponto em que, não sei em que acredito. Se é que acredito em algo. Eu gostaria de acreditar que Deus é a própria bondade e quer salvar a todos nós de nossas desgraças. Mas o que tenho visto são pessoas pregando o ódio, e defendendo um Deus rancoroso e ardiloso. Eu não quero crer nisso, e mesmo se quisesse, não posso acreditar nisso, desculpem-me. Se Deus é esse ódio contra gays, “mulheres de mentira”, negros, e todos aqueles que não seguem o tão sagrado livro, eu prefiro acreditar em ET's. E, por favor, ô seu moço do disco voador, me leve com você, pra onde você for!       




Rayane Medeiros, 03 de Novembro de 2014.

terça-feira, 29 de abril de 2014

O MAIOR DE TODOS OS DEMÔNIOS


As pessoas sempre falam de forma tão bonita sobre o amor... acho que nunca o encontrei de verdade. Ele sempre me veio em forma de angústia, carência, luxúria, egoísmo, solidão exacerbada e, sobretudo, sofrimento. 
Eu sempre tenho duas fases em minha vida: ou estou buscando o amor desenfreadamente, ou estou fugindo dele como o diabo foge da cruz. 
Meu pai sempre me dizia que eu era uma “manteiga derretida”. Choro demais, faço drama, me apego a coisas e pessoas de forma absurda. Sempre culpava a mim mesma pelas relações fracassadas. Me culpava por não estar nos padrões; por minha euforia; minha carência sentimental nunca preenchida. 

A verdade, é que o vazio que tenho no peito, nunca será preenchido, nunca. Ele faz parte de mim, está enraizado... Vai ver que é mal de poeta, que precisa da tristeza e das crises existenciais para dar sentido a sua escrita. Sem questionamentos, não há poesia. É nisso que tenho me sustentado; apoiado meus cacos, ilusões, frustrações. 
As dores quando escritas, até que ficam bonitas.

Poema da Separação

Imagem do clipe A Thing About You, Roxette.

Veja bem, meu bem,
Que tanto amor em meu peito pode sufocar...

Eu que volta e meia fico só,
Quero alguém pra me acalentar;
Um colo onde eu possa deitar minha euforia,
Sossegar minha insegurança
E em teu corpo saciar meu fogo.

Veja bem, meu bem,
Que meu peito tem urgência,
Pressa de viver um amor sem amarras;
Sem freios.
Meu amor não quer paciência,
Quer reciprocidade.

Veja bem, meu bem,
Eu quero um amor pra chamar de meu,
Mas esse alguém não é você.

Desaguar


Meu peito, 
Que de muito amar
Cansou,
Não quer saber de outra coisa 
Senão,
Desaguar no mar.



Desarmada



Desarmei a alma,
Tirei do peito os excessos que me pesavam. 
Preparei a trouxa,
Pendurei no ombro pra partir sem destino.
Mas algo sempre me prendia ali,
No chão de um amor que nunca seria meu.