“Eu quero mais é me abrir
E que essa vida entre assim
Como se fosse o sol
Desvirginando a madrugada”
E que essa vida entre assim
Como se fosse o sol
Desvirginando a madrugada”
(Não Dá Mais Pra Segurar [explode
coração], Gonzaguinha)
Ela
é dessas de vida fácil. Não se vende. Entrega-se por paixão às aventuras; aos
amores impossíveis; às carências incuráveis. Nunca a viram chorar. Nunca. Não
porque a tristeza não tenha lhe visitado alguma vez. Em verdade, mente para si
mesma o quanto é inquebrantável. Em
noites de solidão, engole as amarguras num copo com gelo e Rum. É dessas que se
apega aos vícios para preencher vazios.
Enquanto
criança, foram os livros os únicos amigos que a timidez a permitiu ter. Não falava, não sorria, sequer piscava os
olhos. Suspeito que em momentos de sociabilidade, não tenha respirado. Era
daquelas que passavam despercebidas, sem nada acrescentar.
Chegou
na juventude como foi em toda sua vida: invisível. Foi num desses dias em que
se é preferível não levantar, que ela o conheceu. Deu com ele na segunda
esquina, quando ia à padaria, como todos os dias fazia logo bem cedo. Poderia ser
mais um, entretanto, ele esbarrou, parou, pediu desculpas, ofereceu um café.
Ela desnorteada, piscou, tentou um sorriso que insistia não querer sair. Disse
sim com as feições que lhe foram cabíveis. Finalmente respirou.
Ele
é daqueles que, mesmo se a beleza não o tivesse abraçado, seria igualmente
irresistível. Voz de sussurro ao acordar; dentes à mostra tão alinhados e
despidos de vergonha quanto os olhos deixando a alma saltar em euforia.
Ele
a viu, a desejou, a conquistou, mas nunca a amou. É desses homens que têm o
coração impenetrável. Não duvide se eu disser que ele sofre. Sim, meus caros,
ele sofre! Sofre por nunca conseguir amar. E não há sofrimento igual, ao de nunca
alcançar o maior de todos os deuses. E quando viu aquela jovem que o medo a
impedia até mesmo de sorrir, acreditou que podiam salvar um ao outro. Em vão.
Entregaram-se.
Corromperam-se. Mas não se amaram. O amor era aquele bicho selvagem que quanto
mais o perseguiam, mais ele se embrenhava no mato. Amor é bicho esperto. E,
mesmo se capturado, não há cabresto que o consiga prender no peito.
Cansaram-se.
Como tudo que não nos basta, nos cansa irreversivelmente. Ele partiu assim como
veio. Pegou um novo rumo logo que chegou na esquina onde o acaso topou
com eles. Ganhou o mundo. Nunca volta. Por que voltaria?
Ela,
dessas que nunca choram. Procurou nos homens a felicidade que nunca foi capaz
de encontrar em si mesma. Mas, quem sabe um dia? Enquanto isso esbarra em bares;
noites frias; bocas doentias; mãos frívolas infiéis; amores que nunca serão
seus. Nunca.
Muito bom o texto, Rayane.
ResponderExcluirMuito obrigada!
ResponderExcluirMuito bom.
ResponderExcluirGenial retrato da vida!!! Gostei. Parabéns!!_________________LL
ResponderExcluirLindo texto Ray! Como sempre me deixando orgulhosa de ter uma amiga como você! AMEI.
ResponderExcluir