Aquela
tensão em esperar, vigiar os ponteiros do relógio para que eles não trapaceiem,
enquanto a distração vez e outra se atenta para flertar com a rua – os carros
que passam, as pessoas que se atropelam, o vento varrendo o dia que ficou nas
calçadas. Aquela tensão em mastigar o vazio do tempo que não quer correr, que
não quer partir e deixar-me em outros braços.
Aquele
medo de encontrar-se com o Nunca Mais, com o rumo que a vida leva, e nos leva,
involuntariamente... Medo de passar as mãos pela cama, e não encontrar o calor
de uma pele que não a minha. Medo de não mais partilhar de risos e sussurros
fora de hora, fora de eixo, fora de qualquer sentido racional.
Aquela
velha angústia no aguardo que nunca finda - correr a vista pela casa, tatear a
ausência, a escuridão que entra pelas frestas, como ratos famintos numa fome
insana. Aquela angústia em suportar o encarar incessante das paredes que nunca
falam, mas ouvem, sempre ouvem e muito atentas.
Aquela
ânsia em devorar o incerto, o silêncio que não cala, as lembranças quase
insustentáveis... Ânsia em corromper-me em teus beijos, impregnar-me com teu
cheiro, embrenhar-me em teu pêlo, em teu selo, em teu corpo em ebulição. Ânsia em devorar-te, sem mais.
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