Desde muito cedo frequentei os bancos da igreja, agarrada às
saias de minha vó paterna. Íamos às missas, novenas, procissões. E enquanto
aquela gente fechava os olhos para rezar com tanta devoção, eu os observava sem
entender coisa alguma. Por muitos anos acompanhei minha vó, às vezes meu primo
nos acompanhava, outras vezes nós acompanhávamos outras velhas. Eu ia mais por
passeio que por qualquer outra coisa. E perguntava a minha vó porque as pessoas
pediam aos santos, se podiam pedir diretamente a Deus. Ela me respondia com
aquela crença de velha ofendida "Deus já ouve pedidos de mais, os santos
intercedem". E foi com esse hábito de criança curiosa que comecei nas
aulas de catecismo para fazer a Primeira Eucaristia. Minto, fui também por
passeio, junto a meu primo e amigos nossos. Era minha diversão, já que nada
tinha para fazer aos domingos (talvez sábados, já nem lembro ao certo). Entretanto,
antes da grande cerimônia, nos vimos obrigados a nos confessar ao padre, tudo parte
ritual. Quando me vi frente à batina, nada tinha a dizer. O padre insistiu,
queria saber de meus pecados. Que pessoa seria que não havia pecado algum? Eu
tinha que confessá-los! Tanto insistiu que o confessei estar “brigada” com
minha madrasta. Não via motivo algum, para falar com alguém que estava
desviando o amor de meu pai a mim, para ela, ora, pois! O padre, no alto de sua
sabedoria, me aconselhou que voltasse a falar com ela. Foi assim que cometi um
dos tantos erros da minha vida juvenil: Voltei a falar com uma mulher pelo qual
nutríamos dissabores recíprocos. Por fim, Até hoje não entendo porque chamam de
Primeira Eucaristia, já que não há uma Segunda Eucaristia. Perdoem-me se falo
bobagens, sobre essas coisas de igreja nada entendo.
Depois de crescida, ia para as missas com as amigas, motivo?
Meninos! Pois sim, íamos paquerar na igreja! Passávamos um tempo ouvindo a
palavra de Deus, e pouco tempo depois já estávamos no pátio da igreja
fofocando, comendo pipoca, flertando. Bom, nessa parte falhei, minha timidez me
impedia de manter até contato visual com alguém de outro sexo. Entretanto,
acobertava os romances das amigas. Então, foi nesse período que minhas idas à
igreja não tinham sentido algum. Mais eu frequentava as rezas, mais descrente
eu ficava. E assim fui aos poucos deixando os passeios na igreja, e me
autointitulei "católica não praticante", mas não por muito tempo. Um
professor de História, por quem tinha eu verdadeiro apreço, certa vez em sua
aula, disse que “católicos não praticantes” nada mais são que, pessoas sem
religião que simplesmente não admitem que não a têm (quem sabe por medo?). A
partir daí (mas não tão rápido) comecei a vestir a minha 'não religião'. Foi
quando vieram as condenações por eu não crer em Deus. E lá ia eu explicar que
não seguir uma religião não significava não ter Deus no coração...
Segui em minha defesa de que tinha Deus em meu comando até
quando conheci o Agnosticismo. Muitos gostam de classificar como “Ateus em cima
do muro”. Eu defendia que Deus é abstrato, que ele é manifestação do bem e o amor
entre as pessoazZzZzZ. Até que cheguei a um ponto em que, não sei em que
acredito. Se é que acredito em algo. Eu gostaria de acreditar que Deus é a
própria bondade e quer salvar a todos nós de nossas desgraças. Mas o que tenho
visto são pessoas pregando o ódio, e defendendo um Deus rancoroso e ardiloso.
Eu não quero crer nisso, e mesmo se quisesse, não posso acreditar nisso, desculpem-me.
Se Deus é esse ódio contra gays, “mulheres de mentira”, negros, e todos aqueles
que não seguem o tão sagrado livro, eu prefiro acreditar em ET's. E, por favor,
ô seu moço do disco voador, me leve com você, pra onde você for!
Rayane Medeiros, 03 de Novembro de 2014.
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